Sabias que…
A 24 de novembro de 2022 celebrámos o Dia Nacional da Cultura Científica?
Foi criado em 1996 em Portugal e foi escolhida esta data, porque foi neste dia (em 1906) que nasceu Rómulo de Carvalho, o professor de Física e Química responsável pela promoção do ensino de ciência e da cultura científica no nosso país. Rómulo de Carvalho foi também poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão.
Ao analisar alguns dos poemas mais “científicos” de Gedeão, podemos ver como neles a ciência se entrelaça com a poesia. O mais conhecido poema de Gedeão é provavelmente “Pedra Filosofal”, inserido em Movimento Perpétuo, que ficou famoso através da versão que Manuel Freire cantou na RTP em 1969.
A ciência, hoje inseparável da tecnologia, é uma contínua descoberta que resulta do sonho humano: «o sonho comanda a vida».
- “Pedra filosofal” – música de Manuel Freire
https://www.youtube.com/watch?v=8glQyFRzXYg
- “Pedra filosofal”- poema de António Gedeão publicado no livro Movimento Perpétuo, em 1956
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarela voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.